Publicação original: Julho de 2009
Nesse dias em que o Santo Padre Bento XVI publicou a sua nova Encíclica “Caritas In Veritate”, “Caridade na Verdade”, “sobre o desenvolvimento humano integral na caridade na caridade e na verdade”, enfocando assuntos como economia, mercado e empresa, é comum que ressurja uma pergunta que volta-e-meia sempre aparece, e é fundamental que seja respondida com clareza:
“O capitalismo é mau si mesmo?”
Essa questão foi abordada diretamente pelo saudoso Papa João Paulo II, na sua Encíclica Centesimus Annus (CA), em 1991, quando ele afirmou (n. 42):
“Voltando agora à questão inicial, pode-se porventura dizer que, após a falência do comunismo, o sistema social vencedor é o capitalismo e que para ele se devem encaminhar os esforços dos Países que procuram reconstruir as suas economias e a sua sociedade? É, porventura, este o modelo que se deve propor aos Países do Terceiro Mundo, que procuram a estrada do verdadeiro progresso econômico e civil? A resposta apresenta-se obviamente complexa. Se por «capitalismo» se indica um sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada e da consequente responsabilidade pelos meios de produção, da livre criatividade humana no setor da economia, a resposta é certamente positiva, embora talvez fosse mais apropriado falar de «economia de empresa», ou de «economia de mercado», ou simplesmente de «economia livre». Mas se por «capitalismo» se entende um sistema onde a liberdade no sector da economia não está enquadrada num sólido contexto jurídico que a coloque ao serviço da liberdade humana integral e a considere como uma particular dimensão desta liberdade, cujo centro seja ético e religioso, então a resposta é sem dúvida negativa.”
Com isso, é exato afirmar que, segundo a Doutrina Social Católica, o capitalismo NÃO é mau em si mesmo, mas somente em seus ABUSOS, enquanto o socialismo é mau EM SI MESMO, por atentar contra o direito natural à propriedade privada e as liberdades individuais, subvertendo a ordem social (Catecismo da Igreja Católica, n. 2403-2404; 2424-2425)
Essa “economia livre”, ao qual a Doutrina Social Católica defende, está sujeita, dentro dos justos limites, a intervenção do Estado (por isso João Paulo II fala em enquadramento num "sólido contexto jurídico") e precisa acontecer sob sólidas bases morais e éticas. Aqui, aplicam-se perfeitamente as palavras do Santo Padre Bento XVI na sua nova Encíclica (n. 6-9):
“«Caritas in veritate» é um princípio à volta do qual gira a doutrina social da Igreja, princípio que ganha forma operativa em critérios orientadores da acção moral. Destes, desejo lembrar dois em particular, requeridos especialmente pelo compromisso em prol do desenvolvimento numa sociedade em vias de globalização: a justiça e o bem comum.
(...) Sem verdade, cai-se numa visão empirista e céptica da vida, incapaz de se elevar acima da acção porque não está interessada em identificar os valores — às vezes nem sequer os significados — pelos quais julgá-la e orientá-la. A fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade, a única que é garantia de liberdade (cf. Jo 8, 32) e da possibilidade dum desenvolvimento humano integral. É por isso que a Igreja a procura, anuncia incansavelmente e reconhece em todo o lado onde a mesma se apresente. Para a Igreja, esta missão ao serviço da verdade é irrenunciável. A sua doutrina social é um momento singular deste anúncio: é serviço à verdade que liberta.”
Dominó
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